07/03/2024

A força da diversidade: como a inclusão de pessoas com deficiência enriquece o mercado de trabalho

Só 1% dos empregos formais são ocupados por pessoas com deficiência, de acordo com o Ministério da Economia. Ações afirmativas de conscientização e sensibilização ajudam a aumentar essa parcela e garantir um ambiente de trabalho mais diverso e criativo

Na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), realizada e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado, o Brasil contava com 18,6 milhões de pessoas, com 2 anos ou mais, com algum tipo de deficiência.

Desses, apenas 26% estavam presentes no mercado de trabalho. Já de acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgado pelo Ministério da Economia, dos 46 milhões de vínculos de emprego formal, somente 486 mil estavam direcionados às pessoas com deficiência, ou seja, menos de 1%. “Atribuímos essa defasagem à falta de informação, preconceito e, principalmente, falta de convivência com pessoas com deficiência. Há uma frase que diz: ‘inserir é convidar para a festa e incluir é chamar para dançar’. Assim, ações de sensibilização e inclusão dentro das empresas são essenciais para a inclusão efetiva desta parcela da população”, diz Henri Zylberstajn, fundador do Instituto Serendipidade, que fornece suporte e orientação a pessoas com deficiência e suas famílias, além de propor ações de impacto social relevante em empresas e instituições.

O Instituto Serendipidade conta com uma parceria com a Associação para Profissionalização e Integração do Excepcional (APOIE), que busca contribuir com a formação profissional de jovens e adultos com deficiência intelectual a partir de 15 anos de idade. O instituto atende gratuitamente 60 adultos e idosos com síndrome de Down e outras deficiências intelectuais, desenvolvendo programas de bem estar e contribuindo para o envelhecimento saudável e com protagonismo.

O Programa também tem uma linha de pesquisa em parceria com o Grupo Médico Assistencial do Hospital Israelita Albert Einstein (GMA – HIAE), representado pelo coordenador, o médico geriatra Dr. Marcelo Altona, que estuda a longevidade através de um olhar holístico para qualidade de vida das pessoas com deficiência, que se estende ao cuidado das famílias e jovens aprendizes do programa de Emprego Apoiado.

“Seguindo um movimento natural que vemos na sociedade, de inversão da pirâmide etária, há um envelhecimento e aumento da expectativa de vida dessa parte da população. E não falamos só dos aprendizes, mas também do envelhecimento de toda a família e como essa família vai poder dar auxílio a esse adulto que está envelhecendo. Sob essa ótica, a APOIE trabalha em colaboração com o propósito do Instituto Serendipidade, na área da saúde e bem-estar dessas pessoas. Juntamente com o instituto, temos ainda parceria com empresas que abrem vagas para os aprendizes da APOIE, através do emprego apoiado, que ajuda a viabilizar o cumprimento da Lei de Cotas. Assim incentivamos a independência financeira e a autonomia dos adultos e idosos com deficiência”, explica Sonia Monken, coordenadora de projetos sociais do APOIE.

Diante da falta de oportunidade para essa parcela da população, o país já implementou algumas ações afirmativas para promover a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Uma delas é a Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91), que determina que empresas com mais de 100 funcionários devem destinar uma parcela de suas vagas para pessoas com deficiência.

A parceria entre empresas e entidades que trabalham com a conscientização de equipes, como faz o Instituto Serendipidade, pode fazer parte das ações para inclusão das pessoas no mercado de trabalho. “Em um cenário onde todos são ‘iguais’, o diferente vai causar estranheza e levar a atitudes discriminatórias, mesmo que de forma inconsciente, como o capacitismo, por exemplo. Além disso, vemos que muitas pessoas não sabem o que significa ‘acessibilidade’, já que, mesmo que contratem pessoas com deficiência, acabam ignorando que todo o ambiente precisa estar adaptado para que a pessoa trabalhe com autonomia. E é aí que entramos, levando informação para empresas e colaboradores”, diz Henri.

Companhias como o escritório de advocacia Machado Meyer, a consultoria KPMG, a Cielo e a Falconi Consultoria já apostaram em estratégias de sensibilização para a inclusão de pessoas com deficiência através das ações de geração de valor social promovidas em parceria com o Instituto Serendipidade. “O aumento da diversidade traz diferentes vantagens e experiências para toda a equipe, como o estímulo à criatividade, já que diferentes pensamentos impulsionam a inovação nas empresas. Além disso,  temos ainda uma melhora no clima organizacional, com os colaboradores se sentindo valorizados e respeitados, fomentando uma maior motivação e engajamento. Entendemos que a inclusão desses profissionais tem contribuído para a construção de uma cultura corporativa que valoriza a igualdade e o respeito”, diz Daniel Szyfman, sócio e membro do comitê de D&I do escritório Machado Meyer.

Já Marina Leite Canto, diretora de produto na Vivara, não tem dúvidas de que as pessoas com deficiência no ambiente de trabalho trazem um olhar único para os desafios, até mesmo aprimorando a capacidade de resolução de problemas. “A inclusão se tornou um símbolo que representa a nossa Responsabilidade Social e compromisso com o ESG a partir de vieses mais criativos, a partir da convivência com pessoas diversas, cada qual com sua necessidade específica. Isso fomenta a atração de novos talentos, clientes e parceiros e traz para a empresa uma jornada cheia de pertencimento, aprendizados e possibilidades. Os benefícios que experimentamos incluem o aumento da produtividade, a contribuição para uma cultura mais positiva, que está em compliance com a acessibilidade,  e para a reputação da empresa”, diz.

“É importante sempre enxergar a pessoa antes de sua deficiência. E quando isto acontece, a inclusão deixa de ser encarada como um problema e passa a ser vista como solução, tornando o ecossistema empresarial mais justo, diverso e rentável – como mostram inúmeros estudos feitos por empresas de consultoria do mundo todo. Em 2014, a consultoria McKinsey publicou o relatório ‘O valor que os colaboradores com síndrome de Down podem agregar às organizações”, em parceria com o Instituto Alana. Outros materiais relevantes são os relatórios ‘A importância da diversidade’ e ‘A diversidade como alavanca de performance’, de 2015 e  2018, respectivamente. Os materiais evidenciam, cada vez mais, que empresas que valorizam e adotam a diversidade apresentam melhor performance financeira. Sugiro a leitura”, conclui Henri.


Legenda: Henri Zylberstajn, fundador do Instituto Serendipidade, e o filho Pedro, que tem síndrome de Down
Créditos: Divulgação
Legenda: Daniel Szyfman, sócio e membro do comitê de D&I do escritório Machado Meyer.
Créditos: https://www.machadomeyer.com.br/pt/advogados/daniel-szyfman
Legenda: Marina Leite Canto, diretora de produto da Vivara
Créditos: Divulgação