Alta histórica de emissão de CO2 na construção: mercado enfrenta desafio no ESG
Tecnologias aplicadas em tradicionais processos ajudam a mudar cenário negativo. De acordo com último relatório da COP27, 37% dos gases que causam efeito estufa foram emitidos pela construção em 2021
A retomada das demandas da construção após o período pandêmico acelerou muitos negócios, mas também trouxe à tona o grande desafio que o setor enfrenta com a agenda ESG. O relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, apresentado na COP27, encontro para discussão global sobre práticas ambientais, mostrou que 37% do CO2 emitido em 2021 veio desse setor.
Apesar do contexto negativo, esse é também um mercado de oportunidades, visto que mais de 90% dos gestores de edificações querem reduzir a emissão de carbono, de acordo com levantamento da Johnsons Controls. A agenda ESG, aliás, se estabelece como fator crucial para negócios que visam crescimento em longo prazo e entrada no mercado de capital aberto e captação de investimentos.
E é neste cenário que surgem novas soluções para apoiar a transformação na construção civil. Uma delas é a CarbonCure, sistema desenvolvido no Canadá que acaba de chegar ao Brasil e promete “capturar” CO2 de grandes emissores, utilizando-o na produção de concreto e transformando o gás em material sólido não poluente.
Fabio Camargo, da Camargo Química, empresa responsável por distribuir o sistema no Brasil, explica que ele é uma grande oportunidade para que concreteiras fortaleçam suas práticas ESG e ingressem no mercado de crédito de carbono. “Essa tecnologia captura o CO2 emitido por grandes emissores e injeta na mistura de concreto. O gás é transformado em carbonato de cálcio, que confere maior resistência à mistura, comprovada através de estudos acadêmicos da Universidade de Toronto e da Universidade de New Brunswick”, destaca.
A proposta da CarbonCure é reduzir até 500 milhões de toneladas de CO2 ao ano – cada metro cúbico de concreto produzido com a tecnologia tira de 12 a 15 kg de gás carbônico da atmosfera.
Além da agenda ESG com foco em sustentabilidade, o compromisso com a redução de CO2 é um fator essencial para empresas que focam na longevidade dos negócios. Ainda de acordo com o levantamento da Johnsons Controls, empreendimentos que não contemplam ações práticas para reduzir a pegada de carbono tendem a perder valor de mercado nos próximos anos.
“Além do fator sustentável, esse sistema é um caminho inovador para a entrega de produtos com maior resistência, proporciona uma viabilidade econômica a partir do mercado de crédito de carbono, pois as concreteiras poderão comercializar seus créditos já que seguirão o caminho contrário de grandes emissores. Quanto ao relacionamento com o mercado, é um caminho para tirar a construção civil do topo de setores poluentes e contribuir com práticas inovadoras e sustentáveis para o segmento”, reforça Fábio.