"Autismo é um espectro e precisa ser compreendido por diversos olhares", diz escritor
O jovem autista Marcos Petry, autor do canal Diário de um Autista, foi um dos palestrantes do 1º Simpósio Nacional AutismoS On-line. Evento gratuito foi transmitido no canal do YouTube e está disponível na íntegra com conteúdo sobre inclusão educacional
Segundo dados de um estudo publicado pela Universidade de São Paulo (USP) este ano, estima-se que no Brasil existam 2 milhões de autistas. Estima-se, pois não há registros oficiais sobre o número de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no país. Por esse e outros motivos – como por exemplo, a necessidade de estruturas inclusivas na sociedade –, vários grupos preocupados em disseminar informações sobre o TEA se propagam em território nacional. Um deles é o AutismoS, instituto que realizou, em parceria com a universidade Uniasselvi, o 1º Simpósio Nacional AutismoS On-line na última quarta-feira (4). O evento gratuito buscou trazer à tona a necessidade do diagnóstico precoce do autismo, além da importância do desenvolvimento de oportunidades de inclusão, principalmente da criança e do jovem autista no âmbito educacional.
Participaram do Simpósio o neurologista infantil Dr. Thiago Gusmão, o escritor e doutor em educação Dr. Eugênio Cunha, e a escritora Michelle Malab. Além dos especialistas, fecharam a rodada de exposições – que começou às 15h e durou até as 21h – o youtuber e palestrante autista Marcos Petry, com sua mãe, Arlete Petry.
Os especialistas foram taxativos em um ponto: as características que indicam a presença do TEA não podem ser avaliadas isoladamente. É preciso considerar os fatores em conjunto e as comorbidades (hiperatividade, ansiedade e distúrbio do sono são algumas delas) para um diagnóstico preciso e, a partir daí, orientar a criança para os estímulos de desenvolvimento das suas habilidades. “Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as chances da criança ser funcional”, comentou o Dr. Thiago Gusmão. “Ninguém se torna autista depois de adulto. Os sinais de autismo se apresentam na infância e são crônicos, ou seja, acompanham a pessoa por toda a vida”, explicou Michelle, que além de ter um filho autista, foi diagnosticada com autismo apenas quando adulta e explicou os desafios que enfrentou ao longo da vida antes do diagnóstico.
Ao abordar os desafios da inclusão educacional das pessoas com TEA, o psicopedagogo Eugênio Cunha destacou a importância do acompanhamento do profissional assistente para dar suporte ao processo de aprendizagem: “Educar o aprendente com autismo é construir uma relação dialógica, que pressupõe um jeito diferente de aprender e um jeito diferente de ensinar”.
Para expor na prática as palavras dos especialistas, o palestrante Marcos Petry e sua mãe Arlete contaram sobre a descoberta do TEA e como foi encarar as barreiras que surgiram com o transtorno. “A autenticidade foi o pontapé inicial para vencer as dificuldades. A gente não deixou ele dentro de casa, como o médico orientou ao dar uma expectativa de vida de apenas um ano ao meu filho”, contou Arlete, explicando que Marcos teve complicações no pós-parto que lhe causaram uma lesão cerebral – o autismo foi diagnosticado anos depois, quando o menino ingressou na escola. “Não encontramos muita informação quando buscamos conhecer melhor o Transtorno do Espectro Autista. Mas continuamos nossos estímulos e um intenso trabalho conjunto de toda a família para que o Marcos pudesse ter uma vida com qualidade. Aos 12 anos, ele se percebeu diferente e começou a se autoestudar, a se entender”, completa a mãe de Marcos.
Graças a esse ambiente favorável criado pela família e por ele mesmo, o jovem de 27 anos é formado em Comunicação Institucional, mestre em Design Gráfico e Produção Publicitária. Cheio de conhecimento e muito seguro da sua condição, Marcos também é escritor e produz conteúdo sobre o autismo para o seu canal do Youtube, Diário de um Autista, além de rodar o país fazendo palestras sobre o tema. “São muitos os desafios, mas também são muitas as possibilidades. O autismo é um espectro e precisa ser compreendido por diversos olhares”, citou ele, ressaltando que os gatilhos de superação, ou seja, os estímulos que o fazem caminhar no espectro, são o que o motivam a aceitar sua condição e levar conhecimento para outras pessoas com TEA.
O 1º Simpósio Nacional AutismoS On-line pode ser visto na íntegra aqui. A iniciativa do Instituto AutismoS em parceria com a universidade Uniasselvi foi para enfatizar o propósito de promover a inclusão dos autistas no meio educacional, do ensino básico até o superior. A entidade já impactou mais de 12 mil pessoas em propostas de educação continuada para inclusão dos autistas na rede de ensino e agora parte para atividades on-line, podendo capacitar profissionais de todo o país.