02/03/2021

Cargas sensíveis: os desafios da gestão logística no verão

Jean Carlos Pereira, CTO da Lincros

As altas temperaturas, seguidas com frequência de tempestades típicas do verão brasileiro, castigam não só setores como o agronegócio, mas também representam um desafio a mais para a logística do país. As dimensões continentais são outro agravante para as empresas que precisam organizar com eficiência a distribuição de produtos e enfrentam o calor e os bloqueios causados por alagamentos e outros desastres naturais comuns nos meses mais quentes do ano.

O cenário, inclusive, faz com que muitas empresas adotem estratégias de guerra neste período. Especialmente as marcas que lidam com produtos perecíveis, como os alimentos, precisam criar estratégias eficientes para manter o escoamento da produção em níveis eficientes, preservando a qualidade e durabilidade dos itens.

Um dos exemplos mais recentes e comentados em todo o mundo, que evidenciam o desafio do transporte de cargas sensíveis, é a distribuição das vacinas contra a Covid-19. Conservadas em ambientes resfriados, elas devem não só serem armazenadas com qualidade, como também distribuídas em veículos preparados para driblar as temperaturas que desfavorecem sua conservação. Soma-se ainda, a este cenário, a pressa mais do que justificada para a entrega de milhares de doses, capazes de salvar vidas.

Além disso, as restrições adotadas em diferentes regiões do país no último ano, para conter o contágio durante a pandemia, somaram-se aos desafios já conhecidos pelos negócios no momento da distribuição de seus produtos. A associação NTC&Logística destaca que o transporte rodoviário de cargas chegou a cair 45%, o que elevou o preço do frete em até 10% em parte do país. Já um estudo da Orange Business Services com executivos de 18 países revelou que as mudanças drásticas na cadeia de abastecimento afetaram ao menos 83% dos gestores ouvidos.

Custos elevados, agora, são mais um item a ser acrescentado no complexo trabalho do transporte de cargas sensíveis, como frutas, verduras, itens refrigerados e medicamentos. Estes e outros produtos, que precisam chegar a tempo aos pontos de entrega, garantindo abastecimento e evitando perdas, merecem ainda mais atenção da cadeia de transporte.

Garantir eficiência neste processo, com tantos fatores contribuindo negativamente na distribuição de cargas sensíveis, passa, invariavelmente, pela automação. Novas tecnologias que integram processos logísticos para dar ao gestor controle sobre todas as etapas da distribuição são cada vez mais comuns. Iniciativas como a roteirização, que proporciona o desenvolvimento de rotas com melhor custo-benefício, levando em consideração diversos aspectos da jornada, como restrições de trânsito, situação das estradas e até mesmo o custo de pedágio, além da possibilidade de alterações pontuais ao longo do trajeto, são um exemplo de aplicação de tecnologia para a preservação e entrega eficiente de cargas sensíveis.

Contar com essa visualização prévia do trajeto, além da retroalimentação de informações sobre a condição de cada rota utilizada, dá às empresas uma previsibilidade fundamental para a gestão logística. E garante ao processo de distribuição mais qualidade, com a preservação da carga refrigerada ou com vencimento curto.

Quem ainda não se voltou para a digitalização de processos segue sofrendo perdas nos mais variados níveis dos processos logísticos, especialmente quando se trata de cargas sensíveis. 

Ainda de acordo com o levantamento da Orange Business Services, oito em cada 10 profissionais de logística aceleraram suas estratégias de automação após a pandemia e 50% das empresas pesquisadas estão revisando as estratégias de abastecimento e os riscos ligados a elas. 

E neste processo, negócios que ainda não são considerados preparados para atender a um mercado mais exigente e desafiador, perderão espaço e competitividade, sem contar os prejuízos com a perda de insumos por conta de má conservação ou demora na entrega. Cabe ao gestor do segmento da logística buscar as melhores estratégias digitais, visando não só otimizar sua operação, mas garantir o bom relacionamento estratégico com o consumidor final que quer, acima de tudo, receber seus produtos com qualidade e eficiência, alheio a boa parte dos desafios que regem a rotina de quem enfrenta, diariamente, as rodovias brasileiras. 


Legenda: Jean Carlos Pereira, CTO da Lincros
Créditos: Divulgação