01/06/2021

Cultura organizacional: como manter o bom ambiente de trabalho no home office?

Raquel Parente*

A pandemia do novo coronavírus mudou o jeito como se faz todo tipo de atividade. A principal, que mais trouxe desafios, foi o método de trabalho. Tanto gestores quanto empregadores e colaboradores tiveram e têm tido de se adaptar aos mais diversos tipos de situações.

Para muitos colaboradores, a situação de home office é o cenário ideal para aliar o conforto de estar em casa à maior produtividade no trabalho. Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral, feita em parceria com a Grant Thornton Brasil e a Em Lyon Business School em 2021 mostra que 58% dos entrevistados afirmaram ser mais produtivos trabalhando em home office. Porém a produtividade não significa que tudo seja flores. Os empregados também enfrentam desafios: 24% dos respondentes apontaram como problema “maior volume de horas trabalhadas”; já 16% citaram a “dificuldade de relacionamento” e “dificuldade de comunicação”. Para 14% dos entrevistados, uma das questões também presentes é o “equilíbrio com demandas pessoais”.

Para lidar com estas demandas, os empregadores devem estar atentos e fazer algumas ações para que seus colaboradores não se sintam abandonados ou sem prestatividade por parte dos seus superiores. Já que todos estão em suas casas, sem se verem durante estes últimos meses, é necessário manter um canal de comunicação sempre aberto para incentivar o bom relacionamento e também estar disponível para solucionar problemas e tirar dúvidas.

No setor de TI, um dos que mais contrata – segundo estudo da Microsoft, os empregos devem aumentar de 41 milhões em 2020 para 190 milhões em 2025 – é um dos segmentos que mais se adaptou ao home office. Mas é também uma das áreas que precisa olhar com muito cuidado para a cultura organizacional. Como, afinal, manter o DNA da empresa em tempos em que grande parte da equipe sequer se conhece ou conhece a estrutura física da companhia em que atua?

Em tempos normais, os novos empregados passariam por algum tipo de integração com outros colaboradores, sentariam em mesas lado a lado, tirando dúvidas, compartilhariam o horário de almoço no refeitório da empresa ou restaurantes e até mesmo o happy hour aconteceria com certa frequência.

No home office, o cenário muda e algumas estratégias precisam ser desenvolvidas para que os funcionários tenham este senso de pertencimento à empresa e se sintam mais motivados. Como Head de Gente & Cultura de uma empresa que contratou mais de 200 profissionais durante a pandemia, em modelo home office/híbrido, percebo o quanto estas iniciativas fazem a diferença. 

A começar pelas boas-vindas: os novos colaboradores recebem em casa um kit para o onboarding online, contendo mochila, garrafinha de água reutilizável, camisetas e mais. Os colaboradores também recebem kit temáticos em datas especiais, como Páscoa e momentos de happy hour. A empresa também tem promovido lives de entretenimento e de oficinas de novos conteúdos. A inauguração de um novo escritório da empresa também foi transmitida ao vivo para seus colaboradores – e o espaço foi projetado para encontros pontuais, um ambiente de relacionamento e não mais de cumprimento da jornada integral de trabalho.

Outra ação fundamental é a cultura do feedback e o alinhamento entre setores. Optamos, por exemplo, na realização de uma reunião semanal online e informal, que ocorre toda sexta-feira, para que todos da empresa possam compartilhar experiências, seus projetos, ou apenas para dar risadas e descontrair depois de uma nova semana de trabalho. Para quem tem dificuldade com o trabalho remoto, o microfone e a câmera do computador podem ficar sempre ligados, assim como as dos gestores, para criar a sensação de proximidade e ajudar na solução de quaisquer dificuldades que surjam no dia a dia do colaborador. Monitorar o clima organizacional através de pesquisas se tornou ainda mais importante. É através destes insights que podemos entender as necessidades de cada perfil de profissional e atuar para amenizar determinados desafios.

Outro ponto fundamental é o pilar de saúde e bem-estar, a empresa precisa facilitar o acesso a conteúdos e práticas para aliviar o stress, ansiedade e outros sintomas que este período tem provocado nos profissionais.  Aqui na empresa, optamos por disponibilizar um app de bem estar e saúde onde o colaborador pode acessar aulas de Yoga, Mindfulness, etc. com o foco em trazer mais saúde mental. Além disso, promovemos lives com especialistas como Nutricionistas, Psicólogos, Educadores Físicos, Médicos, etc visando trazer conhecimentos para os nossos colaboradores e suas famílias. E para fechar adicionamos o pilar descontração, onde estimulados live descontraídos e happy hours informais. Tudo isso para gerar um ambiente mais humano e próximos no novo ambiente de trabalho. 

Uma vantagem do home office para a empresa é a possibilidade de atração de talentos profissionais em qualquer parte do país ou até do mundo. Já para o colaborador, é a possibilidade de estar mais perto de sua família, evitar filas no trânsito e gastos com locomoção e também flexibilidade de horários. 

Porém, as adversidades deste modelo de trabalho demandam dos empregadores a necessidade de saber adaptar a cultura organizacional da empresa para que todos se sintam realmente acolhidos, respeitados e motivados. Ainda que o home office seja eficiente, entendo que o modelo híbrido, sempre que for possível intercalar jornada remota e presencial, é o ideal, pois este contato pessoal tem um peso muito impactante para o engajamento dos profissionais.

Com atenção voltada às pessoas, suas necessidades individuais e o respeito ao propósito da empresa é possível criar identificação entre equipe e negócio e manter não só a produtividade, mas a satisfação pessoal dos envolvidos.

 

*Raquel Parente é Head de Gente & Cultura da PagueVeloz, fintech brasileira especializada no desenvolvimento de serviços financeiros customizados.


Legenda: Raquel Parente, head de Gente & Cultura da PagueVeloz
Créditos: Divulgação