24/03/2021

Líderes não estão preparados para lidar com demandas do novo colaborador, avalia mentor de negócios

Para Roberto Vilela, ações para cultivar a individualidade dos profissionais e flexibilidade de gestão serão cada vez mais importantes para alavancar produtividade e fomentar o engajamento

Engana-se quem pensa que o trabalho remoto é o desafio mais importante da carreira do líder atual. Mesmo em meio à crise, encontrar – e manter – mão de obra na empresa pode ser ainda mais desafiador do que gerir pessoas à distância.  É o que acredita o consultor empresarial, mentor de negócios e palestrante Roberto Vilela. Para ele, boa parte dos líderes enfrentam uma realidade distinta do que acredita o senso comum: na indústria, por exemplo, setor que mais gerou empregos no último ano, segundo o Caged, o próprio formato de trabalho nem sempre colabora com a geração de valor ao profissional.

“Enquanto na área de Serviços vemos uma movimentação de valorização da individualidade, o líder de setores fabris, de mercados como o têxtil e o de construção, é mais habituado a um modelo de gestão ‘comando X controle’. Na indústria, o fato é que você perde sua individualidade durante oito horas diárias, tendo de respeitar o código de vestimenta, evitando o uso de smartphone em ambiente de produção e outras regras que nem sempre são bem aceitas pelos profissionais, especialmente os mais jovens”, comenta Vilela.

Neste mercado, o desafio do líder, segundo o mentor, é criar estratégias para valorizar o profissional de outras formas, garantindo assim a manutenção dos times. “Não é nada fácil conseguir manter a motivação de uma equipe neste tipo de ambiente e o líder deve conseguir transitar entre as opções de flexibilização, por mais simples que possam parecer, e cumprir questões ligadas à segurança do trabalho, como no caso de proibição de uso de celulares no espaço fabril. O que se percebe é que, especialmente com a nova geração de colaboradores, há uma barreira entre gestor e liderado e nem sempre se encontra um caminho para driblar as diferenças”, comenta.

A expectativa do profissional X o papel do líder

Para Vilela, atualmente a cultura digital é premissa básica para qualquer profissão. “E, muitas vezes, o líder com mais tempo de carreira tem mais dificuldades de se adaptar a esta nova realidade do que os jovens que estão chegando ao mercado de trabalho. É preciso encontrar um ponto de convergência entre ambos, eliminar práticas antiquadas desde o recrutamento e priorizar a melhoria do relacionamento”, diz.

Mesmo que tenha de utilizar uniforme, cumprir jornada inflexível de oito horas diárias ou evitar fones de ouvido enquanto trabalha, o profissional pode ser liderado de forma assertiva: “São pequenas mudanças que iniciam grandes processos. O primeiro passo da liderança evolutiva é criar estratégias de aproximação. Deixe a antiga ficha de dados de lado e inicie um recrutamento digital, por exemplo. Priorize a conversa presencial e frequente a apenas simples comandos sobre o que se pode ou não fazer. Entenda e valorize soft skills que, mesmo em ambiente fabril são necessárias. Afinal, sentir-se valorizado e não controlado é premissa básica de engajamento”, finaliza o mentor de negócios.


Legenda: Roberto Vilela, consultor empresarial
Créditos: Daniel Zimmermann
Legenda: Roberto Vilela, consultor empresarial
Créditos: Daniel Zimmermann