Mulheres à frente: entre avanços e desafios, a liderança feminina cresce e impulsiona melhorias no cenário corporativo
Mesmo com índices longe dos ideais, presença de mulheres como líderes em empresas de diversos segmentos mostra o quanto esse posicionamento se reflete positivamente nos negócios
A presença de mulheres em cargos de liderança nas empresas vem crescendo gradativamente. Segundo o 9º relatório anual Mulheres no Local de Trabalho, realizado pela McKinsey & Company e pela LeanIn.org, entre 2015 e 2023, a presença de figuras femininas em cargos executivos saltou de 17% para 28%, globalmente. Os números animam, mas também mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançar a igualdade de gênero no mundo corporativo.
Por outro lado, o crescimento constante da quantidade de mulheres gerindo negócios ajuda a quebrar parte das barreiras que ainda existem, como a falta de representatividade. Há 16 anos, Cristiane Tonet ingressou como executiva de contas na Sancon, empresa de tecnologia de Joaçaba, no Oeste de Santa Catarina. Depois de passar por outros cargos dentro da mesma companhia e ajudar no seu crescimento, hoje ela ocupa o cargo de diretora de operações, um dos postos mais altos dentro do Grupo Sancon (formado pela Pronnus, empresa de soluções de segurança da informação, e pela Sancon, empresa de TI que oferece soluções para gestão empresarial e está há quase 30 anos no mercado), que conta com mais de 100 colaboradores.
“A diversidade é essencial para o sucesso de qualquer organização e eu tive a felicidade de encontrar as oportunidades de crescimento que precisava dentro da Sancon. Enquanto gestora busco promover colaboração e incentivar o crescimento pessoal e profissional de toda a equipe - aqui, 53% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Para este Dia Internacional das Mulheres, encorajo todas a persistirem em seus objetivos, acreditarem em seu potencial e a ocuparem os espaços que merecem”, reflete Cristiane.
No Vale do Itajaí, Andréia Rengel é a CEO da AMcom, empresa de tecnologia que desenvolve soluções personalizadas com foco em Data Analytics e Inteligência Artificial para grandes empresas de todo o Brasil e de alguns outros países.
A executiva ingressou na companhia há 17 anos, quando a AMcom era uma empresa de pequeno porte, com 20 funcionários, bem diferente do cenário atual. Andréia desenvolveu sua carreira na organização, onde foi responsável por implantar os setores de Marketing, Comercial, RH e Serviços. Desde 2019 ocupa o cargo de CEO, liderando mais de 500 colaboradores em um negócio de atuação global. Hoje, 28% do quadro de colaboradores é composto por mulheres.
“Me sinto honrada por estar em um cargo de liderança em uma empresa tech, que culturalmente, ainda é um segmento predominantemente masculino. Acredito que temos o poder de inspirar e apoiar outras mulheres para que elas também sejam protagonistas das suas carreiras e possam ocupar cargos de alto nível em suas organizações. Precisamos buscar cada vez mais essa igualdade, para construirmos um mundo ainda melhor para as próximas gerações”, diz Andréia.
Segundo o Panorama Mulheres 2023, estudo feito pelo Talenses Group com o Insper, as mulheres passaram de 13% a 17% dos CEOs do país. Sheyla Patrícia Pereira ocupa o cargo há 27 anos na Father & Company, que presta serviços de consultoria estratégica voltada ao mercado interno e implantação de processos de internacionalização de negócios locais. Para ela, uma líder mulher precisa jogar o jogo, pois a cobrança é seguramente mais pesada do que com um líder homem.
“Uma liderança feminina tem sensibilidade, intuição, emoção. Essas são características que alimentam relações - e liderança é sobre relações! Você só lidera quem você envolve, conquista e motiva. Ter uma líder mulher na direção de uma empresa, de um time ou na condução de um projeto carrega habilidades e vantagens que vão desde a resolução de conflitos na gestão de crises a insights intuitivos para decisões mais equilibradas”, comenta.
Outro estudo da McKinsey & Company revela que companhias que investem em diversidade de gênero têm 15% a mais de chances de ter rendimentos acima da média. A força do ESG no mercado também tem impulsionado que as empresas revejam questões outrora vistas como menos importantes, como o incentivo à ocupação de espaços por parte das mulheres.
Desigualdade salarial
A presença de mulheres em cargos de liderança e a disparidade salarial entre gêneros são temas interligados. Isso porque a diferença salarial entre homens e mulheres é algo que existe desde sempre e, mesmo ocupando os mesmos espaços, por muitas vezes, um preço a se pagar é ter um salário menor. O que é comprovado por estudos, como o da consultoria Mercer, que aponta que a remuneração das mulheres é, em média, 20% menor do que a dos homens, nos cargos de liderança. Em posições mais baixas essa diferença diminui.
No Brasil, em 2023, foi regulamentada através do decreto nº 11.795, a Lei de Igualdade Salarial (nº 14.611/23), que obriga empresas com mais de 100 funcionários a publicarem informações sobre os salários pagos. Segundo o advogado Marco Antonio Coelho, do escritório Flávio Pinheiro Neto Advogados, de Blumenau (SC), a mudança na legislação tem por função impulsionar de forma objetiva as ações de regularização das políticas de remuneração das organizações visando a obtenção da equidade salarial utilizando-se da publicidade e transparência.
“A transparência salarial é importante para identificar e corrigir disparidades que possam implicar na prática de políticas injustas de remuneração entre funcionários, especialmente aquelas decorrentes de preconceitos de gênero. No entanto, vale lembrar que para que a desigualdade deixe de existir é necessário um esforço mútuo entre empresas, governos e sociedade, para que, mais do que a força de obrigação trazida pela lei, outras medidas sejam tomadas no mesmo sentido, preferencialmente no fortalecimento da cultura integrativa e de reconhecimento das habilidades geradoras de soluções e resultados que, definitivamente, não se resumem a um único gênero”, afirma o advogado.