O papel dos profissionais de ESG na abordagem preventiva dos riscos pós-desastre climático no Rio Grande do Sul
Por Sharon Koepsel, especialista em ESG do escritório de direito empresarial Flávio Pinheiro Neto Advogados
Sim, o foco é salvar vidas! E com o maior respeito às vítimas, peço licença para tocar num tema com o objetivo de fomentar uma discussão que nos ajude a diminuir os impactos que a economia irá sentir nos próximos meses. Como profissionais de sustentabilidade e ESG, nos cabe também exercitar a capacidade de antecipação de riscos do que ainda vem pela frente.
É urgente o debate sobre questões que não se esgotam à medida que as águas baixarem e que precisam evoluir de maneira urgente para planos de ações viáveis e executáveis.
Podemos citar aqui pontos como alteração da legislação ambiental; falta de investimento em infraestrutura de prevenção; entes públicos sem o menor preparo para lidar com crises de grandes proporções; falta de um plano de contingência claro e ativo.
Sabemos que a situação atual é o início de um longo período de recuperação e que pela extensão do dano, irá impactar a economia nacional e trazer possíveis danos colaterais como inadimplência, aumento das taxas de juros, escassez de recursos, demissões, êxodos e por aí vai.
Para quem não pode estar no fronte, atuando direto na solução, pode além dos donativos, pensar estrategicamente como os riscos podem virar oportunidades de diminuição dos danos em médio prazo.
Análise dos riscos e oportunidades
É crucial realizar uma análise detalhada dos riscos decorrentes do desastre climático, considerando os impactos diretos e indiretos nas operações, cadeias de suprimentos e reputação das empresas. Com base nessa análise, os profissionais de ESG podem auxiliar na elaboração de estratégias de mitigação de riscos e adaptação às novas realidades ambientais.
No cenário econômico, o Rio Grande do Sul tem na produção agrícola um pilar fundamental, com o estado responsável por 70% da produção nacional de arroz e sendo um importante produtor de trigo, além de possuir um expressivo setor de criação de frangos e suínos.
Além do setor agrícola, a indústria também desempenha um papel significativo na economia gaúcha, contribuindo com 6,1% do PIB industrial nacional. São mais de 45 mil empresas industriais.
No âmbito das exportações, o Rio Grande do Sul se destaca como o sexto maior estado exportador do Brasil, evidenciando a importância do comércio internacional para a economia local.
Esses dados em uma primeira análise nos levam a questões como: a cadeia produtiva da sua operação depende de insumos da região do RS? Sua logística passa pela região do RS? Seus principais clientes atuam ou dependem de algum insumo ou possuem operação na região?
A partir disso, além de oferecer ajuda, de imediato alguns pontos precisam ser considerados, como por exemplo, se a empresa tem capacidade financeira de assumir os prejuízos por um período sem descredenciar o fornecedor. Outra questão: uma possível inadimplência pode afetar meu faturamento? Por quanto tempo?
Além disso, como lições aprendidas, precisamos olhar também para dentro de casa e identificar o quanto a empresa está cumprindo com as exigências de licenciamento ambiental previstas em lei. Isso inclui políticas internas de apoio às vítimas de desastres ambientais, que envolvam não apenas a gestão, mas também colaboradores e stakeholders de maneira geral. E mais: na sua área de atuação, existem iniciativas científicas que desenvolvam tecnologias que ajudem a evitar outros desastres climáticos – e se sim, o quanto há o envolvimento corporativo com tais práticas?
Pensar em atuar conforme as premissas de ESG traz segurança para situações de crise como a que o Rio Grande do Sul vem sofrendo – e que vai continuar impactando todo o país a médio e longo prazos nas mais diferentes esferas. Para mitigar esses impactos, é essencial que as empresas adotem estratégias proativas de gestão de riscos e sustentabilidade, integrando considerações ESG em suas operações e tomadas de decisão.