04/09/2023

O varejo nacional precisa investir num projeto em longo prazo e olhar lá para fora

Por Sheyla Patrícia Pereira*

Há tempos a confiança do consumidor brasileiro não atingia níveis tão altos. Em agosto, o índice chegou a 96,98 pontos – o maior desde fevereiro de 2014, quando atingiu 97 pontos. Entre os fatores que contribuem com esse cenário, a redução da taxa de juros e queda da inflação são alguns exemplos que impactam diretamente no bolso de quem compra – e dão a ele a sensação de poder de aquisição.
 
O contexto favorável nos leva a uma análise dos movimentos do mercado local, que tem no varejo um setor de representatividade enorme na economia do país – e abre as cortinas para uma necessidade gritante: desenvolver estratégias maduras com visão global, elevando o potencial das empresas nacionais para um outro nível de competitividade.
 
O Brasil tem atraído os olhares internacionais como uma boa alternativa de investimento – a todo momento somos informados sobre uma nova companhia do exterior que está injetando capital por aqui. Somos uma nação de dimensões continentais, inovadora, jovem, com capacidade produtiva e bastante flexível – um terreno bastante fértil para empresários de fora que buscam novas possibilidades de escalar seus negócios. Gera emprego e renda, aumenta o poder de compra. Mas, para as empresas daqui, a atração pelo Brasil traz consigo uma outra consequência, nada cor-de-rosa: o crossborder, uma concorrência desleal que incomoda e tira o sono. 
 
Ao passo que o varejo nacional inicia uma batalha por isonomia competitiva com os players globais – que usufruem de benefícios fiscais e minam o crescimento nativo – vale a análise do contexto macro, em que as barreiras físicas já não interferem nas relações comerciais, principalmente as B2C. Por isso é primordial que o empresário brasileiro, independentemente do porte, abrace o quanto antes os desafios que esse futuro próximo está desenhando. Que o Brasil tem sido uma atração de investimento é fato. Mas é fato também que as produções locais têm total capacidade de fazer o caminho inverso e explorar terrenos além-mar.        
 
A economia global está cada vez mais digital. Assim, a inovação e a internacionalização são essenciais para o sucesso das empresas brasileiras no mercado mundial. É preciso investir em tecnologia para oferecer uma experiência de compra diferenciada aos consumidores. É indispensável um projeto que aumente a eficiência operacional para reduzir custos e melhorar a lucratividade. E principalmente: é urgente expandir a presença internacional para conquistar novos mercados e crescer. 
 
Tudo isso se conquista quando se tem um negócio pensado de forma estratégica. Porque não basta ter um e-commerce: existem inúmeras ferramentas por trás da associação entre tecnologia, experiência do cliente, atendimento ao consumidor e cenário de mercado que devem ser entendidas para gerar um resultado assertivo.  
 
A atuação no mercado internacional é um processo que precisa ser estruturado, mapeado e respaldado. Qualquer empresa que busque crescimento chegará num ponto da trajetória em que internacionalizar não será uma opção, mas, sim, uma necessidade. E quando falamos de internacionalização, não queremos dizer, necessariamente, vendas para o exterior. É um alerta para que o varejo brasileiro desperte para a reinvenção, para o diferencial, para o que deve ser feito para não perder mercado aqui ao passo que busca espaços lá fora. Internacionalizar é estratégia e representa uma oportunidade de crescimento, diversificação e ganho de competitividade - não só para grandes corporações, mas para todos os que vivem a jornada empresarial. 
 
*Sheyla Patrícia Pereira é sócia diretora-executiva da Father Company Brasil
 

Legenda: Sheyla Patrícia Pereira, da Father Company Brasil
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