Paralisação de caminhoneiros testará capacidade de adaptação das empresas, destaca especialista
Marcada para o dia 1º de fevereiro, a manifestação deve mobilizar mais de 20 mil profissionais e promete ser maior do que a de 2018. Sem apoio tecnológico para rever entregas, custos de frete e reestruturação de rotas empresas poderão perder produtos, clientes e oportunidades de negócios
Com uma pauta de reivindicações que engloba a tabela de piso mínimo do frete, novo modelo de cobrança do diesel, mudanças na condição de aposentadoria e na fiscalização da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), caminhoneiros de todo o país ameaçam paralisar as operações. A mobilização, marcada para o dia 1º de fevereiro, deve impactar todo o país e, segundo a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB) e o Conselho Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), organizadores da iniciativa, mais de 20 mil profissionais irão participar. A expectativa é de que a greve seja maior do que a realizada em 2018.
Para empresas que adotam serviços de frete a iniciativa é desafiadora: assim como na última paralisação, negócios em todo o país precisarão se reestruturar em relação a prazos de entregas, contratação de fretes e monitoramento de cargas, especialmente com produtos perecíveis. “Em 2018 vivi isso na pele, coordenando a logística de uma empresa produtora de itens plásticos. E foi bastante desafiador, houve necessidade de se reavaliar custos logísticos integrando novas tabelas de frete do dia para a noite e, assim, manter a operação. Esse processo tornou evidente o quão importante é contar com um mapeamento da operação, que permita a reestruturação rápida das entregas”, lembra Ana Müller, consultora de projetos logísticos da Lincros, empresa especializada em soluções de inovação para gestão e monitoramento logístico.
Segundo a executiva, uma nova paralisação poderá ser encarada com mais facilidade por negócios que já digitalizaram seus processos nos últimos anos. “Um bom software logístico facilita nesta situação, por exemplo, a simulação de todas as tabelas de frete disponíveis, tornando a reestruturação das entregas com novos fornecedores mais viável e reduzindo o impacto de possíveis incrementos de custo. Além disso, identificar com agilidade transportadoras que possam operacionalizar rotas impactadas fará toda a diferença para a continuidade do negócio”, comenta.
Para Ana, outro fator que pesa no processo de manutenção da operação, especialmente em empresas com frota própria, diante de uma greve é a gestão integrada entre central e veículos. “Empresas em processo maduro de digitalização fornecem maior segurança para seu time em campo porque conseguem se comunicar em tempo real, além de direcionar os motoristas por vias seguras, evitando, por exemplo, coação para que os profissionais também paralisem os trabalhos. É neste sentido que a Lincros atua no processo de digitalização das empresas”, ressalta.
Prejuízos ao bolso do consumidor
Além de impactar nas entregas, uma nova greve dos caminhoneiros também pode resultar em aumento de preços nas prateleiras. A especialista da Lincros lembra que em 2018 veículos com carga perecível ficaram parados por dias, resultando em desperdício de insumos, especialmente os de alimentos. “O custo foi direto para o bolso do consumidor. Segundo a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, houve impacto na economia de mais de R$ 15 milhões em virtude dessas perdas”, lembra.
Outro fator de impacto em uma paralisação nacional seria no processo de exportação. No episódio de 2018, que durou 11 dias, a manifestação contingenciou insumos que chegariam aos portos. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em oito dias mais de US$ 1 bilhão já haviam sido registrados em perdas neste segmento.