Projeto Laços: 6 anos oferecendo acolhimento e pertencimento a famílias com necessidades específicas
Iniciativa do Instituto Serendipidade se baseia na escuta ativa e suporte emocional a quem enfrenta a notícia de deficiência de algum familiar
Receber o diagnóstico de deficiência, seja ela qual for, não é um momento fácil de lidar. Revolta, solidão, incerteza e inseguranças são alguns dos sentimentos que afloram inconscientemente. Foi assim com o Bruno Ferolla, ao descobrir com a esposa Nicolle Hofer Tebbe que estava com 22 semanas de gestação que a filha Elis tinha síndrome de Down. “Meu mundo caiu. A gente idealiza um filho durante a gravidez e essa idealização nunca é uma criança com deficiência. Foi um golpe duro e um misto de sensações, principalmente envolvendo o luto: negação, raiva, aceitação, negação novamente. A aceitação vai sendo aos poucos e a minha ficha só começou a cair mesmo quando ela nasceu, prematura. Eu vi aquela menininha tão guerreira e foi ali que a coisa mudou”, relata o pai.
Em um mundo onde tantas famílias se sentem sozinhas ao lidar com o inesperado, o Projeto Laços, do Instituto Serendipidade (que tem sede em São Paulo, mas estende o atendimento internacionalmente através de uma metodologia própria), se apresenta como um caminho de conexão e esperança. Diante da ausência de espaços preparados para acolher, a iniciativa faz um cuidadoso acolhimento através de uma escuta ativa, sem julgamentos, e orienta famílias que recebem o diagnóstico de deficiência de um filho. O projeto é uma resposta concreta a essa lacuna emocional e social. Neste 30 de junho, o projeto celebra mais um ano de existência, ampliando redes de apoio, promovendo escuta ativa e fortalecendo os vínculos de quem enfrenta uma nova realidade repleta de dúvidas, desafios e descobertas.
“O Projeto Laços foi parte integrante dessa minha recuperação do luto, entre aspas. Comecei a ler sobre o tema, embora por conta da minha atuação na área médica eu já tivesse algum conhecimento, mas eu não sabia como ser pai de uma criança com síndrome de Down. Fiz uma busca ativa na internet e encontrei o projeto. Fui muito bem acolhido, sempre prontamente, por um acolhedor com perfil muito parecido com o meu. Tenho uma gratidão imensa pelo Maurício, o pai que me acolheu, que me ajudou demais com a experiência dele. Me acalmou, me orientou, foi sincero, genuíno, verdadeiro, humanizado. Pra mim, a palavra que define o Projeto Laços é pertencimento. Você se sentir pertencido a um grupo num momento de fragilidade é muito importante, reconfortante, alivia a dor. É uma troca totalmente personalizada, que realmente faz a diferença no nosso olhar sobre essa realidade de convívio com uma deficiência”, afirma Bruno.
Desde seu lançamento, em 2019, o Laços já impactou mais de 350 famílias em 23 estados brasileiros e 12 países do exterior, promovendo encontros presenciais ou em formato virtual. Hoje, o projeto é conduzido por uma equipe técnica e inclui a participação de 38 pais acolhedores voluntários. A média atual é de seis acolhimentos por mês. Mais do que números, esses encontros representam histórias de transformação, empatia e pertencimento.
“O Laços funciona como um espaço seguro e afetivo para que pais, mães e cuidadores compartilhem suas vivências e encontrem apoio mútuo por meio da escuta genuína. Além disso, o projeto aposta na formação de multiplicadores: participantes que, após viverem o processo, passam a atuar como acolhedores, expandindo a rede de suporte de forma orgânica e contínua”, comenta Marina Zylberstajn, psicóloga e pedagoga do Instituto Serendipidade.
Importante destacar que o projeto não se trata de um atendimento psicológico nem terapêutico. O acolhimento é feito de forma totalmente confidencial, gratuita e conduzido por pessoas com vivência recente, na prática, sobre o impacto de um diagnóstico da síndrome de Down ou outras condições genéticas. É essa vivência que torna o processo tão humanizado e próximo da realidade das famílias atendidas.
Com o apoio de instituições como o Hospital Israelita Albert Einstein e a Maternidade São Luiz — parceiras no suporte ao acolhimento no momento da notícia, antes ou logo após o nascimento —, o Projeto Laços vem ampliando seu alcance para grupos de pais de crianças de 0 a 5 anos e 6 a 10 anos, para as quais as necessidades se diversificam. “Entendemos que a rede de apoio precisa ser constante, em várias etapas da vida da criança e das famílias. Dessa forma, estamos buscando fortalecer a atuação do projeto Laços como uma rede viva de escuta, empatia e pertencimento”, reforça Marina.