Quem não reconhece que precisa do outro, dificilmente vai conseguir cultivar um ambiente de confiança, afirma especialista em gestão
Zeca de Melo, professor da Fundação Dom Cabral, foi o convidado para a palestra que marcou o aniversário de 25 anos da Fundação Fritz Müller. Em tom de conversa, ele abordou as virtudes e vulnerabilidades do gestor e das corporações na atualidade
Foram uma hora e meia de exposição de um conteúdo que levou os participantes à reflexão pessoal e do seu papel dentro das corporações. Zeca de Melo, palestrante convidado para agenda que marcou os 25 anos da Fundação Fritz Müller nesta segunda-feira (16), foi seminarista por 18 anos – destes 12 como padre católico. Amante da filosofia e dos princípios da teologia, ele se interessou pelo estudo de gestão após deixar a batina. Hoje, professor de MBA da Fundação Dom Cabral, eleita uma das dez melhores escolas de negócios do mundo, usa sua experiência como líder religioso para refletir sobre os caminhos que a gestão contemporânea está seguindo.
Em Virtudes e Vulnerabilidades: reflexões sobre a evolução da Liderança, Zeca destacou as principais necessidades de desenvolvimento do gestor e da corporação. “As pressões, tensões e mudanças constantes geram medo, ansiedade, paralisias, perdas de sentidos. Tudo isso é vulnerável e estamos experimentando essas sensações potencializadas hoje pelo contexto que estamos vivendo. Por isso, precisamos rever posturas”, iniciou. Ele mencionou que, tradicionalmente, a imagem de uma liderança de sucesso é aquela que sabe das respostas certas, que não mostra suas fraquezas, muito ligada ao masculino, ao guerreiro, à agressividade.
“Mencionamos os colaboradores que se destacam como tratores. Para alcançar um objetivo dentro da corporação, falamos em bater as metas. Mas hoje não é o mais forte que vence. A capacidade de adaptação e cooperação ganha destaque. Quem não reconhece que precisa do outro dificilmente vai conseguir cultivar um ambiente de confiança. Essa é talvez, a principal virtude atual”, explanou.
A crise é a professora da humildade do líder
Zeca afirmou que a transformação das pessoas implica em lidar com a sua vulnerabilidade. Assim, é essencial exercitar o olhar crítico sobre o processo de aprendizagem que tivemos. “Nós fomos formados na lógica de que não poderíamos errar. Estudamos em escolas que priorizavam as respostas certas. O bom aluno era aquele que tinha a resposta. E levamos isso para a vida adulta: a boa liderança é aquela que tem a resposta certa. Precisamos quebrar esse paradigma”, ressaltou, destacando as virtudes que a liderança precisa praticar: humildade e coragem.
“Devemos também nos atentar ao ato de desaprender para reaprender. Nós nos perdemos na vida quando perdemos a capacidade de olhar o outro nos olhos. Ser humilde é ter coragem de enxergar sua própria verdade, como pessoa e como organização. E tem uma professora para isso: é a crise. Ninguém lidera nada se não tiver passado por algumas crises”, explicou.
Para o professor, a crise nos desloca da superfície para a profundidade e abre brechas para novas luzes: “A essência do desenvolvimento humano é cheia de frestas. Quando passamos por uma crise, somos obrigados a olhar nos olhos. É necessária muita coragem para dizer: eu não sei. Precisamos de lideranças que ofereçam ajuda, mas que, principalmente, peçam ajuda”, finalizou, com a mensagem de que vulnerabilidade pode ser uma força e que prioridade é reconhecer os limites e se colocar à escuta.