Repensar modelos de construção é uma urgência para evitar o desabastecimento
Por Fábio Camargo, CEO da Camargo Química, empresa especializada no desenvolvimento de soluções sustentáveis para a construção
A pauta ESG não é mais uma novidade, mas um critério cada vez mais avaliado pelo mercado em relação aos negócios. Seja para investimentos, no mercado financeiro e de crédito, ou ainda para o consumidor final, os modelos de atuação que preservam e repensam o consumo de insumos em diferentes áreas se colocam como os mais assertivos.
Assim, na construção não é diferente, visto que se trata do setor, segundo o levantamento Circularity Gap, responsável por quase 50% do uso de materiais (42,4 bilhões de toneladas) globalmente e que gera cerca de 20% das emissões de carbono. Buscar novas formas de manter o setor atuante não se trata apenas de caráter ambiental, mas de sustentabilidade das operações no longo prazo. Afinal, lidamos diariamente com recursos que são findáveis e, como tal, exigem uma postura de cuidado e de inovação.
De acordo com o estudo Global Footprint Network, que mensura o uso de recursos naturais no mundo, hoje já estamos consumindo mais do que a Terra é capaz de oferecer. Assim, o reuso e a revisão de processos e insumos é urgente. Cresce, portanto, a oportunidade de exploração de novas tecnologias que auxiliam em diversas etapas construtivas, da descarbonização do concreto até recursos de limpeza que não poluem o ambiente.
O que, creio eu, ainda falta para potencializar um novo modus operandi da indústria da construção não é a carência de iniciativas inovadoras com foco em ESG, mas a cultura de inovação dentro do próprio setor. Por ser um dos segmentos mais tradicionais em todo o globo, com recursos usados da mesma forma por décadas, muitas vezes as portas não se abrem com facilidade para a mudança. Hoje, no entanto, com a pauta ESG e a iminência da falta de recursos, muitas companhias que buscam liderar o ecossistema construtivo já tornam suas operações mais sustentáveis, nos mais variados aspectos.
Esse ritmo de mudança foi acentuado na pandemia, por exemplo, quando o CREA-SP registrou um crescimento de 25,7% na procura por projetos de construção sustentável em 2020, na comparação com o ano anterior.
Isso significa que mesmo grandes empresas com foco em infraestrutura, não ligadas a processos diretos com o consumidor final, passam a ser julgadas por ele e esse peso impacta diretamente na decisão de compra no segmento. Seja para manter investimentos, seja para estar no hype do cliente, ser sustentável não é mais questão de escolha, mas de obrigação. Agora, o que diferencia e torna uma empresa líder é a forma como ela lida com as questões ESG e não apenas se conta com iniciativas sustentáveis. Quais recursos preserva, o que tem de inovação que vai impactar a vida da comunidade em que estará inserida uma obra, e os próprio mercado, como o surgimento da comercialização de crédito de carbono, mostram que este é um caminho sem volta. Ganha mais quem sair na frente.