Roaming e interoperabilidade: conectando países na eletromobilidade
*Por Gabriel Damazio, especialista em mobilidade elétrica da VoltBras, empresa de soluções tecnológicas para o gerenciamento de eletropostos
A eletromobilidade é considerada uma das soluções para enfrentar desafios ambientais e de descarbonização. A transição para mobilidade elétrica não se limita apenas à fabricação de veículos elétricos, mas também inclui uma série de infraestruturas e serviços associados, como o carregamento de baterias.
O crescimento do mercado de veículos elétricos tem tido destaque na América Latina. O Brasil puxa a fila, com recordes nas vendas e emplacamentos mês após mês. Em julho foram 7.642 emplacamentos - 20% a mais do que em junho - informa a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). De janeiro a julho deste ano foram mais de 39 mil veículos emplacados no país.
Mas países vizinhos, como Argentina, Bolívia, Panamá e Uruguai, têm demonstrado interesse nessa transformação global, com empresas investindo na instalação de eletropostos.
Porém, para que haja a interoperabilidade entre os países latino-americanos, e também para dar conforto e praticidade aos motoristas que viajam frequentemente na região, o roaming é um serviço essencial.
Se você já viajou para o exterior, deve ter lidado com o roaming da telefonia móvel. Basicamente você desliga seu celular ao entrar no avião e, quando liga novamente ao chegar no país de destino, ele se conecta automaticamente a uma rede local. Você não precisa contratar uma nova linha de telefone, mas você pode usar normalmente a internet, enviar mensagens, fazer ligações…
O roaming no carregamento de veículos elétricos tem um princípio parecido. Operadores de pontos de carregamento (CPOs), ao trabalharem em conjunto com os fornecedores de serviços e mobilidade elétrica (E-MSPs) criam uma rede de roaming que oferece uma experiência otimizada para os usuários. Assim, o roaming para veículos elétricos permite que os motoristas carreguem seus carros mesmo fora de suas redes de recarga, através do aplicativo que já utilizam normalmente e sem a necessidade de baixar um aplicativo de uma nova rede.
Há, no entanto, alguns desafios a serem superados para que haja o sucesso das operações. Um deles é a padronização. No contexto da eletromobilidade, ela envolve a definição de normas técnicas e protocolos comuns para componentes e sistemas, como conectores de carregamento, métodos de autenticação, taxas de carregamento e comunicação entre veículos e infraestruturas.
Sem uma padronização robusta, cada fabricante ou provedor de serviços poderia adotar soluções proprietárias, resultando em incompatibilidades entre diferentes redes de carregamento e veículos.
Já a interoperabilidade garante a capacidade de diferentes sistemas trabalharem juntos de maneira eficiente. No contexto do roaming na eletromobilidade, essa conexão é crucial para permitir que veículos elétricos sejam carregados em redes de diferentes operadoras sem obstáculos técnicos ou administrativos.
O roaming na eletromobilidade fomenta o crescimento e a expansão da infraestrutura de carregamento em diferentes regiões, incentivando mais pessoas a adotarem veículos elétricos. Na prática, ao abrir o aplicativo para fazer a recarga do seu veículo elétrico, ou até mesmo para planejar sua rota, o motorista tem maior visibilidade dos carregadores disponíveis na sua localidade ou percurso. Assim é possível planejar viagens mais longas e tentar rotas diferentes, sabendo que não ficarão limitados pela disponibilidade de pontos de recarga.
Além das questões operacionais da recarga, para os usuários, o roaming incentiva a concorrência entre as empresas que oferecem serviços de recarga. Ou seja, preços mais competitivos e maior qualidade dos serviços são praticados. A colaboração entre os países e regiões também agregam valor no incentivo à eletromobilidade, onde todas as partes envolvidas podem compartilhar boas práticas e insights produtivo para melhorar a experiência dos usuários e das próprias empresas.
Por fim, ainda é possível destacar que o roaming pode ajudar a reduzir custos operacionais para as empresas que fornecem redes de carregamento, o que torna o uso das estações mais eficiente e inventiva a integração de diferentes fontes de energia renovável e limpa em toda a operação.
A questão da interoperabilidade já não é mais apenas um diferencial, mas sim, uma obrigação em alguns países. No Chile, por exemplo, foi aprovada recentemente a lei nº 21.305, de 2021, de eficiência energética. A norma obriga a interoperabilidade dos sistemas de recarga de veículos elétricos em todo o território nacional.
É possível que norma parecida chegue ao Brasil e, posteriormente, se espalhe por toda a América Latina. Sendo assim, é importante se adequar o quanto antes às normativas, escolhendo bem os parceiros de negócios que já tenham expertise nesta funcionalidade tão importante para o crescimento exponencial do mercado de veículos elétricos.